COLOCAR O MUNDO ENTRE PARÊNTESES: LOUCOS, MÍSTICOS E ILUMINADOS NA ESCRITA DE HILDA HILST
DOI:
https://doi.org/10.7867/1981-9943.2011v5n3p238-256Palavras-chave:
Hilda Hilst, Dissonância, Irracionalidade, Espiritualidade, CríticaResumo
Este artigo pretende interpretar certas vertentes da extensa e singular produção da escritora brasileira Hilda Hilst a partir do valor literário da discordância e da comprovação do diferente valor reivindicatório, crítico e indagador que esta categoria adquire na escrita. A categoria da dissonância é, portanto, a chave para ultrapassar a aparente divergência entre os diferentes códigos retóricos, formais e temáticos e interpretar a obra de Hilst com base numa evolução no interior do seu percurso literário alicerçada num difícil e instável equilíbrio entre a convenção e a transgressão. Esta inconstante harmonia revela, afinal, como tanto os heróicos protagonistas do teatro hilstiano, quanto as desvairadas e/ou lúcidas personagens que povoam diferentes obras de poesia e prosa da autora, resultam igualmente obscenas por defender um pensamento distante do estreito racionalismo assumido pela contemporaneidade, inspirado pela defesa da liberdade e por uma infértil procura de um sentido para a existência. Perante a amplitude e diversidade de um discurso complicado e, por vezes também ambíguo, optamos por uma análise complexa e ecléctica articulada num discurso digressivo e demonstrativo para avaliar a proposta literária hilstiana. Este exame revela como Hilst opta por privilegiar o tabu da irracionalidade para constituir o sentido do seu discurso crítico desde a perspectiva de um dos excessos mais ameaçadores para a ordem social: a dúvida da razão. A apreciação dos textos desvela uma dinâmica dialéctica, pois aquilo que a sociedade interpreta como uma extravagância delirante e indecorosa evidencia-se coerente e fundamentado, pois é lógico revelar-se contra a cegueira contemporânea e interrogar a possível transcendência com desespero, quando somos conscientes de que a existência é delimitada pelos conceitos de tempo, finitude e morte. Aliás, igualmente, percebemos como na obra hilstiana, sempre é aproveitado, por via directa ou indirecta, o discurso daqueles que se sentem agredidos por essa reabilitação dos silenciados, da sociedade, para melhor denegri-la, ao atribuir-lhe toda a responsabilidade da violência constitutiva das relações humanas.Downloads
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