O ORIENTALISMO DE EDWARD SAID COMO FERRAMENTA DE COMPREENSÃO DAS RAÍZES DA COMOÇÃO SELETIVA CONTEMPORÂNEA

Resumo

O presente trabalho tem por objetivo analisar os aspectos estruturantes do fenômeno
denominado de comoção seletiva, que consiste em um processo de discriminação
sóciocultural que atinge notadamente a grupos de indivíduos cujo devido reconhecimento de
direitos é historicamente negado, de forma expressa ou velada, pela comunidade
internacional. Como referencial teórico principal, utilizamos a obra “Orientalismo: o Oriente
como invenção do Ocidente” do autor palestino Edward Said e as comunidades de origem
muçulmana para o devido recorte de pesquisa, propondo-se a examinar neste trabalho, por
meio de exemplos trazidos pelo autor e de obras e relatórios que tratam também sobre o tema,
como a fase contemporânea da comoção seletiva, materializada principalmente por meio da
islamofobia, é pautada em uma prerrogativa histórica da comunidade ocidental em se
apoderar do direito de descrever e identificar quem é o indivíduo considerado diferente, e
como este processo de dominação nega aos grupos subjugados o seu direito de
autodeterminação.
Uma vez estabelecido este quadro de discriminação, no qual a islamofobia se concretiza
principalmente por meio de um discurso de ódio propagado por grupos específicos,
notadamente de extrema-direita, nacionalistas, xenófobos e racistas, a capacidade de proteção
e resistência dos grupos atingidos diminui na medida em que as sociedades ocidentais
normalizam os ataques. Aqui, observa-se por parte da mídia de massa uma ampla difusão de
conhecimento distorcido, generalizado e insuficiente sobre as comunidades de origem
muçulmana, em que seus membros geralmente são tratados como um alvo a ser combatido
nas sociedades ocidentais, por representar o terrorismo, a selvageria, um obstáculo por si só
aos valores democráticos dos sujeitos dominantes.