SISTEMAS DE CONTROLE GERENCIAL COMO INSTRUMENTO DE PODER SOB A ÓTICA DE BOURDIEU

Autores

  • José Luiz Borsatto Junior Professor Adjunto do Curso de Ciências Contábeis da Universidade Paranaense (UNIPAR).
  • Delci Grapegia Dal Vesco Professora do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Contabilidade, da Universidade Estadual do Oeste do Paraná - UNIOESTE, campus de Cascavel. http://orcid.org/0000-0002-0818-3142

DOI:

https://doi.org/10.4270/ruc.2020102

Palavras-chave:

Pacote de Sistemas de Controle Gerencial, Poder simbólico, Violência simbólica, Estudo de caso.

Resumo

Esta pesquisa objetivou compreender como os Sistemas de Controle Gerencial se configuram como instrumento de poder, sob a perspectiva bourdiesiana das relações de poder. Realizou-se estudo de caso interpretativista, posicionado no paradigma pós-estruturalista. A coleta de dados ocorreu por meio de entrevistas, observações e pesquisa documental. Os procedimentos analíticos envolveram as codificações aberta, axial e seletiva e adotou-se triangulação de dados multicritério. Constatou-se a complementariedade entre os controles culturais, planejamento, controles cibernéticos, remuneração e recompensas e controles administrativos. O pacote de Sistemas de Controle Gerencial é definido principalmente em função dos controles culturais. Ademais, os controles investigados são instrumentos simbólicos de poder, que estabelecem normas para funcionamento do campo e reproduzem relações de poder; as quais resultam na definição das atuações da organização investigada perante à sociedade e aos seus próprios funcionários, e no estabelecimento de hierarquias de dominação, influência e controle sobre os agentes sociais. Em contrapartida, o poder também serve de insumo para a definição e aplicação dos Sistemas de Controle Gerencial na empresa. Diante dessas considerações, conclui-se que os Sistemas de Controle Gerencial representam e propiciam a obtenção de capital econômico, cultural, social e simbólico, e proporcionam uma estrutura geral para as ações do campo. Assim, tal estrutura culmina no desenvolvimento do habitus, e é assimilada mentalmente e fisicamente pela doxa e hexis corporal; e os controles são determinantes para a construção das práticas do campo e o exercício do poder.

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Biografia do Autor

José Luiz Borsatto Junior, Professor Adjunto do Curso de Ciências Contábeis da Universidade Paranaense (UNIPAR).

Mestre em Contabilidade pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE) e participante do Grupo de Pesquisa em Contabilidade Gerencial e Controle em organizações do referido programa de pós-graduação nesta instituição. Possui MBA em Controladoria, Gestão Empresarial e Financeira e graduação em Ciências Contábeis pela Universidade Paranaense (UNIPAR). Professor dos Cursos de Ciências Contábeis da Universidade Paranaense (UNIPAR), campus de Umuarama/PR, nas modalidades presencial e EaD; atua nas disciplinas de Controladoria e Orçamento Empresarial (ensino presencial e EaD), Teoria da Contabilidade (ensino presencial e EaD), Contabilidade Introdutória (EaD) e Estágio Supervisionado em Contabilidade. Professor do Curso de Tecnologia em Recursos Humanos, modalidade EaD, da UNIPAR; atua na disciplina de Consultoria e Auditoria de Recursos Humanos. Interesse nas seguintes áreas: vertente sociológica da contabilidade e de sistemas de controle gerencial, contabilidade gerencial e controle em organizações, poder em organizações e pesquisa qualitativa em contabilidade.

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Publicado

2021-04-22

Edição

Seção

Seção Nacional