ESTRATÉGIAS DE ESCRITA TEATRAL NÃO-DRAMÁTICAS E A OFICINA DE DRAMATURGIA NO CONTEXTO CONTEMPORÂNEO: ALGUMAS REFLEXÕES PRELIMINARES
DOI:
https://doi.org/10.7867/2236-6644.2011v16n1p02-11Resumo
A maioria dos manuais sobre dramaturgia teatral acessíveis não só no mercado brasileiro, mas também de língua inglesa e alemã estabelece uma relação estreita entre trama e personagem; ainda concebe a ação teatral enquanto linear e causal e foca numa linguagem mimética predominantemente figurativa. Essas ênfases, entre outros, revelam uma fidelidade desses manuais ao drama rigoroso enquanto modelo de escrita teatral. Embutidas nesse modelo estão noções de história e subjetividade promovidas pela cultura burguesa humanista e iluminista com sua concepção específica de modernidade e subjetividade. Em oposição a esse modelo do drama, desde os anos 70 vêm se estabelecendo escritas teatrais cujo fio norteador não é mais uma ação linear nem uma personagem figurativa, seja ela empírica ou fantástica, mas procedimentos predominantemente linguísticos que estabelecem o texto enquanto mundo próprio. Seus jogos de linguagem combinam diferentes níveis de linguagem, metalinguagem, justaposição de discursos históricos e pessoais, entre outros, a fim de criar uma densa textualidade multifocal e polifônica que solapa as estruturas da concepção burguesa de subjetividade e história. Essa textualidade não-dramática não existe num mundo hermético, mas dialoga com o mundo empírico contemporâneo por meio de uma estética de produção. Após apresentar brevemente algumas das características linguísticas dessa escrita não-dramática, a presente comunicação tece reflexões preliminares acerca das estratégias de escrita que uma oficina de criação de textos teatrais possa adotar para provocar em seus participantes experiências ricas de uma escrita não-dramática.
Palavras-chave: dramaturgia contemporânea; teatro pós-dramático; escrita teatral; oficina de dramaturgia.